Como Chesterton diria, um dos pontos cruciais que finalmente o levou a se tornar católico depois de uma longa e teimosa jornada do ateísmo passando pela igreja anglicana foi o entendimento profundo da escritura e um melhor entendimento da formação histórica do canôn bíblico.
Este foi o caso da minha jornada de fé também.
Chesterton explica isso, e expõe brilhantemente, então custa um pouco seguir sua lógica.
Dale Ahlquist, no artigo sobre sua própria conversão, resume o pensamento de G.K. Chesterton assim:
Chesterton diz que ele consegue entender alguém olhando uma procissão católica, as velas e o incenso, os padres e as túnicas, a cruz e as escrituras, e dizendo, “Nada faz sentido. ” Mas o que ele não pode entender é alguém dizendo “Nada faz sentido – exceto as escrituras. Nós vamos manter as escrituras. Na verdade, vamos mesmo usá-las contra as outras coisas. ”
Este sentimento, quando pela primeira vez me acometeu, falava precisamente sobre a minha experiência, “Nada faz sentido, exceto as escrituras. ”
Como Chesterton, eu não poderia entender a perspectiva: A Igreja Católica está errada em tudo exceto a Bíblia.
Mas nem sempre pensei assim.
Embora eu tenha percebido ou não, na tradição evangélica da qual surgi eu era o cara que pensava como Chesterton descreve.
Eu era a pessoa assistindo a procissão católica passando e dizendo “Nada faz sentido, exceto aquelas escrituras. ”
De qualquer forma, minha maneira de pensar era, a bíblia é confiável e sem erro mesmo que a tradição dela emergida, a tradição que a antecede é fatalmente falha.
Embora consciente ou não, era o que eu acreditava.
Acreditava que eu era capaz de desenhar uma linha e distinguir arbitrariamente, em uma antiga procissão católica, o que é cristão e o que não é.
Com a bíblia, eu vou ficar.
Com a trindade, eu vou ficar.
Rezar para os santos? Não, obrigado.
A real presença do Nosso Senhor na comunhão? Não, obrigado.
Esse tipo de arbitrariedade na rejeição e aceitação, em face disso, parece um pouco estranha se não egoísta.
Em vez disso eu comecei a acreditar que a bíblia – essas escrituras que Chesterton se refere – foi montada sob a autoridade da Igreja Católica. Não é muito uma importância de fé como é uma importância histórica. A Igreja Católica concordou que os evangelhos, as epístolas e os escritos devem ser considerados parte do cânon bíblico. A mesma Igreja Católica que usa incenso, que tem o celibato na ordenação, que encoraja membros a rezar pela intercessão dos santos e da Virgem Maria. Esta é uma e a mesma Igreja Católica. Então como pode tudo não fazer sentido, e de alguma forma a bíblia sobreviver?
No passado, eu poderia argumentar, em boa consciência, que a Igreja Católica errou em alguns pontos ao montar a bíblia. Deus estabeleceu essa Igreja, mas não durou para sempre. Para se ter uma boa noção, este é o mesmo argumento usado pelos mórmons e as testemunhas de Jeová. E isso não faz sentido, pelo menos não para mim, pelo menos não mais. Porque muitas tradições e práticas que são condenadas pelos cristãos protestantes precedem a bíblia na sua forma atual.
Documentos antigos esboçam a missa; pronunciamentos de líderes da igreja sobre a eucaristia como verdadeiramente o sangue e corpo de Cristo; evidência do início da veneração dos santos; uma compreensão sacramental do batismo; o papado. Estas são coisas precedentes ao oficial cânon da bíblia.
Como poderia tudo da Igreja Católica ser ruim exceto a bíblia – especialmente quando algumas coisas censuráveis vieram antes da bíblia?
Se a Igreja Católica teve autoridade suficiente dada por Deus para montar a bíblia – e todos nós temos certeza disso – porque e quando esta autoridade subitamente cessou, e como sabemos? Se todas as tradições da Igreja Católica são falhas, como podemos dizer que a bíblia não é?
Se minha jornada para o Catolicismo fosse descrita como uma caminhada por uma trilha arborizada, este foi um deslizamento de terra inesperado. Se a Igreja Católica está enganada então é necessário que tudo esteja errado e não posso ver um meio confiável de escolher o que não é. Não tem como escolher de forma confiável o que rejeitar e o que manter.
Eu não consigo ver um jeito de dizer: “Católicos erraram em tudo, menos na bíblia.”
Originalmente publicado aqui.