A beleza feminina salvará o mundo
Há uma figura de linguagem muito conhecida de Dostoiévski que diz que “a beleza salvará o mundo”. Esse famoso ditado russo é comumente utilizado para se referir à beleza encontrada nas artes materiais. Com isso, a música, a arquitetura e a estatuária são adequadamente medidas por suas habilidades salvíficas, particularmente em como elas conduzem uma alma de volta para Deus. Há, entretanto, uma peça do quebra-cabeça que ainda precisa ser revelada quando se considera o papel que tem a beleza na salvação do mundo: as mulheres.
O desejo de ser ou estar bela está profundamente enraizado na alma da mulher. A cada ano, nos Estados Unidos, as mulheres gastam cerca de $11 bilhões em cirurgias plásticas, $24 bilhões em tratamentos com a pele (estéticos), $18 bilhões em maquiagens, $38 bilhões em tratamento capilar, $15 bilhões em perfumaria e algo entre $20 e 45 bilhões em tratamentos para perda de peso. A mulher comum passa 17 anos de sua vida fazendo dietas. Ao mesmo tempo em que podemos zombar de tudo isso com o Eclesiastes e dizer: “Vaidade das vaidades!” (Ecle 1, 2), talvez haja algo mais profundo ligado a isso do que a simples vaidade. E se Deus colocou esse desejo em nossos corações por uma razão? Porque, de fato, até a menor das garotinhas dirá que deseja ser tão bonita quanto uma princesa. Isso não é apenas condicionamento cultural, mas algo universal que se encaixa perfeitamente no coração feminino.
Enquanto revisava meu livro, The Marian Option: God’s Solution to a Civilization in Crisis [“A opção mariana: solução de Deus para uma civilização em crise”], a ser lançado em maio de 2017, em cada aparição de Maria que encontrei, a pessoa que afirmava ter visto Nossa Senhora sempre se referia a ela como a mulher mais bonita que ela já vira. Inicialmente, achei esse detalhe bastante mundano — é claro que Nossa Senhora é belíssima —, até que finalmente me toquei da maior importância escondida em sua beleza. Sim, a beleza de Maria é importante porque é a expressão exterior de sua perfeição integral, indicando a beleza para a qual foram criadas todas as mulheres. A Virgem Maria não foi a única mulher criada para ser bela.
Pode parecer banal esta ideia — que as mulheres são chamadas a ser como Maria —, mas o significado por trás dela é rico, amplo e relevante para a vida de cada mulher. Maria tem sido chamada pelos santos como a “ponte” ou a “escada” que liga o Céu e a Terra. E cada mulher é chamada a ser uma ponte entre sua família e o Céu. As mulheres são chamadas a incendiar a chama do divino nas almas dos homens e dos filhos que elas amam. São chamadas a revelar o melhor do amor de Deus e a oferecer, aos que estão à sua volta, os caminhos para encontrar esse amor. O Cristianismo está cheio de santas mulheres, tais como Santa Mônica, Santa Helena, Santa Cecília e inúmeras outras, que conduziram seus maridos, filhos e filhas a abraçarem a fé — até mesmo às últimas consequências do martírio.
Quem quer que folheie uma revista feminina hoje em dia ficará com a distinta impressão de que a beleza se destina exclusivamente ao superficial: fascinar os homens, impressionar os amigos ou esconder as marcas do tempo. A noção de que a beleza deve apontar para além da própria coisa, em direção à fonte de toda beleza — que é o Criador —, está muito, muito distante. Essa beleza vazia faz com que as mulheres se pareçam com “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23, 27). Podemos dedicar 17 anos de nossas vidas a dietas para o exterior, mas quanto tempo nós dedicamos ao interior, fortalecendo a alma? Será que estamos nos fazendo a pergunta: “Eu tenho uma alma bela?”, ou até mesmo: “O que é uma alma bela?”
Para responder parcialmente a essa última questão, podemos nos voltar para o que os homens dizem a respeito das mulheres (quando não estão com medo de revelar o que eles realmente pensam). Temos milênios de poesia, música e literatura revelando o que há na alma feminina que move os homens: desde Salomão, passando por Dante e Petrarca, até as composições líricas atuais. Em muitas delas, não encontraremos nada que combine com as qualidades as quais nossa cultura ensina as mulheres a perseguir e valorizar. Trata-se, no entanto, do tipo de qualidades que podem salvar o mundo: paz, paciência, acolhimento, presença e perseverança no amor. E não são justamente essas as qualidades da bela e bondosa Beatriz, que inspirou e guiou Dante através de sua odisseia, A Divina Comédia?
Chegar à verdadeira beleza é uma daquelas qualidades irônicas que povoam os antigos contos de estórias — e ela surge quando menos se espera. A mulher verdadeiramente bela sabe que seu verdadeiro objetivo não é uma beleza superficial. E só os homens sábios reconhecem que essa mulher existe e vale a pena ser buscada. Infelizmente, tais mulheres não são fáceis de se encontrar. Como resultado, os homens são deixados com substitutas que podem até saciar brevemente o corpo, mas nunca satisfarão a alma.
Sim, a beleza feminina salvará o mundo muito mais rapidamente do que qualquer pintura ou sonata. A batalha está em lembrar, àquelas que foram criadas para serem belas, a abraçarem essa beleza em sua Fonte. Não se encontra ela, de fato, nem nas cirurgias plásticas, nem nas dietas, nem no creme facial; tampouco na sedução, no sarcasmo, no cinismo, no narcisismo, na ambição gananciosa ou no poder — como nossa cultura tenta nos fazer acreditar. Ela está simplesmente em nos doarmos amorosamente pelos outros — coisa que pode não ser sempre gloriosa, mas será sempre bela.
Publicado originalmente por National Catholic Register. Tradução e adaptação: Equipe Christo Nihil Praeponere