A carta de São Francisco Xavier a Santo Inácio de Loyola falando sobre evangelização
Desde que aqui cheguei, não parei um instante: visitando com frequência as aldeias, levando na água sagrada os meninos ainda não batizados. Assim, purifiquei grandíssimo número de crianças que, como se diz, não sabem absolutamente distinguir entre a direita e esquerda. Estas crianças não me permitiam recitar o ofício divino, sem comer, nem dormir, enquanto não Ihes ensinasse alguma oração; foi assim que comecei a perceber que delas é o reino dos céus.
A vista disto, como não podia, sem culpa, recusar pedido tão santo, começando pelo testemunho do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensina-Ihes o Símbolo dos Apóstolos, o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Observei que são muito inteligentes; se houvesse quem os instruísse nos preceitos cristãos, não duvido que seriam excelentes cristãos.
Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam cristãos, simplesmente por faltar quem os faça tais. Veio-me muitas vezes no pensamento ir pelas academias da Europa, particularmente a de Paris, e por toda a parte gritar como louco e sacudir aqueles que têm mais ciência do que caridade, clamando: “Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do céu, por vossa culpa se precipitam nos infernos!”.
Quem dera se dedicassem a esta obra com o mesmo interesse com que se dedicam às letras, para que pudessem prestar conta a Deus da ciência e dos talentos recebidos!
Na verdade, muitos deles, impressionados por esta idéia, entregando-se à meditação das realidades divinas, talvez estivessem mais preparados para ouvir o que Deus diria neles: abandonando as cobiças e interesses humanos, se fizessem atentos a um aceno ou vontade de Deus. Decerto, diriam de coração: Aqui estou, Senhor; que devo fazer? (At 9,10; 22,10). Envia-me para onde for teu agrado, até mesmo para a Índia.