Uma missa de crisma foi interrompida antes do fim no município de Botuverá, em Santa Catarina, neste sábado (28). A celebração, que era presidida pelo Arcebispo de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, acontecia na Paróquia São José, quando autoridades sanitárias e a Polícia entraram mandando que se encerrasse tudo, pois o “evento” não atendia às medidas sanitárias contra a Covid-19.
O pároco da igreja, Pe. Paulo Riffel, informou que a celebração da crisma já havia sido acordada com o prefeito da cidade, e se sentiu “humilhado” quando a Secretária de Saúde apareceu no local, junto com policiais, para encerrar a missa na metade.
“Conseguimos levar até o final da crisma, sendo crismados os participantes, como também na hora da comunhão foi nos avisado que iriam entrar com os policiais. Então, o bispo decidiu então fazer a oração final, agradecer e dar a benção”, contou o padre.
Ou seja, nem os pais e padrinhos, muito menos os crismandos puderam comungar! “Foi um atentado contra a fé católica, contra os nossos católicos de Botuverá, foi um sacrilégio”, disse o sacerdote.
Padre Paulo contou ainda que a celebração não foi realizada na igreja e sim no salão de festas justamente porque o espaço era maior e melhor atenderia as medidas sanitárias, porém neste caso, a celebração foi entendida como um evento pela Secretaria de Saúde.
“Eles não aceitam isso, por favor, eu tenho um sentimento de indignação, de falta de respeito, me senti humilhado, muito triste. Saí chorando. Nossa como pode ter acontecido isso, mas estou firme e forte pela causa de Cristo, pela fé em primeiro lugar”, contou.
O que disse a Secretaria Municipal de Saúde
A Secretária da Saúde de Botuverá, Márcia Adriana Cansian, afirmou que lamenta o ocorrido, mas a medida precisou ser tomada por se tratar de uma desobediência às normas sanitárias.
“O diálogo sempre foi a melhor arma. Uma pena que não surtiu efeito. Respeitamos o momento dos crismandos e aguardamos que fosse finalizado. Não houve nenhuma intervenção dentro do salão e o pedido foi feito diretamente ao Pe Paulo. Considero um momento muito triste para todos nós, e que poderia ter sido evitado”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que tentou fazer com que a cerimônia fosse adiada ou cancelada, mas diante da negativa, precisou intervir.
“Por volta das 19:30hs, esteve no local a secretária de saúde, Márcia Adriana Cansian, o Fiscal da Vigilância Sanitária Maicon Everton dos Santos e do único efetivo da PM (…) Ao chegar, foi chamado o Pe Paulo Vanderlei Riffel, Pároco da Matriz, orientando o encerramento da cerimônia, e que em consenso, foi aguardado o término da Unção do Sacramento, que estava sendo finalizado e também a finalização desta Cerimônia, solicitando que então não houvesse a Comunhão“.
“Se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, se torna difícil conversar”
Nesta terça-feira (1º), o Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, emitiu um comunicado em resposta à Prefeitura de Botuverá, ressaltando que a Arquidiocese sempre cumpriu as medidas exigidas para a celebração das missas e continua trabalhando para que os fiéis possam participar sem o risco de novos contágios.
O Arcebispo começa: “Diz a nota que tudo poderia “ser evitado com a observância às diretrizes do Estado”. Tenho a dizer que na Arquidiocese de Florianópolis são mais de 70 paróquias. Todas elas são orientadas a seguir as normas lançadas pela autoridade sanitária com referência aos cuidados preventivos com relação à COVID 19.
Também em Botuverá, tudo estava organizado seguindo à risca as normas da autoridade sanitária: distanciamento, lugares demarcados para todos os participantes, fornecimento de álcool gel. Todos os presentes usavam máscaras. O fato de que a missa tenha sido no salão deve ser visto sobretudo como um esforço para cumprir aquilo que é o espírito das normas sanitárias“, diz um trecho.
O Arcebispo ainda expressou sua indignação com o desrespeito aos cristãos: “Causa revolta, quando o argumento usado é de que pelo fato de a missa ser celebrada no salão ela se tornava um evento e este era proibido. Ora, se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, se torna difícil conversar”.
E continua: “Havia uma insistência para se achar um motivo para implicar. Sinceramente, não consigo encontrar o motivo para tal implicância. Mas deve haver um motivo. Devo dizer que, pessoalmente, a parte que mais me feriu foi a ordem de interromper a missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade. Nos mais de 40 anos de sacerdócio, isto nunca me aconteceu“.
Para Dom Wilson, tal atitude se assemelha ao que é praticado por governos autoritários e em locais onde não há liberdade religiosa. “Tenho lido nos noticiários que tais fatos acontecem em regiões onde há perseguição contra os cristãos. Aproveitam quando a comunidade está reunida para atacar. Não esperava passar por esta experiência em Botuverá”.