Frei Pacífico foi um dos contemporâneos de São Francisco. Nascido Guilherme Divini, suas memórias de conversão e de vida franciscana estão no novo livro do Cardeal Raniero Cantalamessa, que chega ao Brasil no mês de outubro. O cardeal organizou os escritos do frei, guardados ao longo de oito séculos, e reuniu-os aos seus comentários, nos quais atualiza as experiências de Pacífico para os dias de hoje e direciona-os especialmente aos jovens.

Francisco, o bobo de Deus foi lançado na Itália em abril deste ano pelas Edições Franciscanas Italianas. Para o Brasil, publicado pelas Edições Shalom, o livro mantém o prefácio do Papa Francisco e traz uma carta do Cardeal Cantalamessa exclusiva aos leitores brasileiros.

A conversão do jovem Guilherme o despojou da carreira de poeta trovador e o fez um bobo de Deus. Frei Pacífico também fala sobre alegria, amor, amizade, pureza, cuidado com a Criação e a vida nova no poder do Espírito Santo.

No dia 4 de outubro, a Igreja Católica celebra a festa de São Francisco de Assis. Um momento oportuno para o lançamento do livro. Nesse mesmo dia, Moysés Azevedo e Emmir Nogueira farão uma transmissão ao vivo pelo Youtube com o tema Encontros que decidem a vida. Ative seu lembrete aqui.

A seguir, disponibilizamos algumas partes do livro para que você conheça um pouco sobre quem é Frei Pacífico e como se deu sua conversão:

O meu nome é Guilherme Divini. Sou originário de Lisciano, uma localidade perto da cidade de Ascoli. A aldeia ostenta origens romanas que remontam aos anos das guerras sociais. Há pouco o imperador Frederico Barbarossa o colocou de novo sob a jurisdição do bispo-conde de Ascoli, Rinaldo I. […]

Os frades já conhecem qual era a minha profissão de outrora. Eu era um trovador ou um troviere como dizem aqui no Norte. […]

Eu ganhava a vida, então, escrevendo e declamando poesias. Porém, mais que dinheiro, me interessava a glória. A admiração das pessoas – sobretudo das damas – era tudo para mim. Um sorriso delas ou um leve gesto com o drapeado que seguravam na mão me enchia de orgulho. O meu nome – me foi dito – chegou até os ouvidos do imperador que me coroou como rei dos versos. […]

Nas minhas viagens, passei um dia próximo da cidade de São Severino, não longe da minha cidade natal. […] Decidi aproveitar para visitar minha parente que era monja em um mosteiro a poucos minutos de caminho do centro da cidade. Não gostava muito da ideia de ir visitar mulheres tão diferentes daquelas às quais estava acostumado a frequentar, mas havia prometido aos meus parentes que iria e não podia voltar para casa sem tê-lo feito.

[…]

Chegando à tarde ao mosteiro de Colpersito, encontrei ali uma animação excepcional. Inicialmente pensei que se tratasse de algum trovador como eu ou de um bobo que estivesse fazendo um espetáculo, mas não demorei para descobrir que se tratava de uma outra coisa bem diferente. Havia dois homens vestidos com um áspero hábito cinzento, todo remendado e amarrado com uma corda, descalços, barba por fazer, com cabelos mal cortados.

Parei para escutar, por curiosidade. O menor dos dois, de uma elevação do terreno, com o rosto inflamado, se dirigia aos presentes e dizia: “Convertei-vos, façam penitência pelos vossos pecados, porque o Reino dos Céus está próximo! Crede no Evangelho! Eu era como vós: nunca pensava em Deus e na vida eterna, pensava só em mim mesmo e no meu futuro, mas o Senhor me iluminou…”. E outras frases desse tipo. Parecia que estivesse nos suplicando, às vezes até se interrompia pela comoção. Seu companheiro, separadamente, dizia às pessoas que haviam escutado Francisco: “Escutem bem aquilo que diz aquele homem, pois parece simples, mas vem de Deus!”

Alguns queriam saber quem eram e eles respondiam que eram uns penitentes que vinham de Assis. Porém, aquilo que me impressionava não era aquilo que diziam, mas a concórdia deles, o rosto alegre, o amor e a maravilha. Faziam pensar em pessoas que haviam descoberto um tesouro! […]

Eu pensei comigo: “Estes aqui, ou são unidos a Deus de maneira extraordinariamente perfeita, ou são verdadeiramente insensatos, pois levam uma vida desesperada: são desnutridos, caminham descalços e têm roupas de dar pena”. […]

De repente, o amor cortês que cantava em meus versos apareceu-me por aquilo que era na verdade: um adultério do coração. Me lembrei que um dos dez mandamentos dizia: “Não desejar a mulher alheia” e, com os meus versos, eu incitava exatamente a isto. Ficava virando sem parar na cama improvisada que havia preparado, na tentativa de interromper os meus pensamentos e adormecer, mas em vão.[…]

À recordação da vida passada, se unia a vergonha, o horror pela falsidade que praticava e incutia-se no coração dos jovens. Os aplausos e reconhecimentos humanos recebidos, em vez de encher-me de doçura, haviam agora um sabor amargo. Conhecia suficientemente o latim para me lembrar daquilo que tinha ouvido muitas vezes nas pregações: Vanitas vanitatum! Vanitas vanitatum! (Vaidade das vaidades: tudo é vaidade!). Mas somente agora, pela primeira vez na minha vida, me dava conta da verdade daquelas palavras.

Perto do final da noite, o cansaço venceu e eu adormeci. Naquele estado tive uma visão. Tenho certeza de que não era somente um sonho. Vi um homem marcado em forma de cruz por duas espadas colocadas cruzadas, muito resplandecentes: uma se estendia da cabeça aos pés como se saísse da sua boca; a outra, transversalmente, de uma mão para outra, à altura do peito. Reconheci imediatamente nele o homem que na noite anterior havia pregado na praça. Uma das duas espadas, da sua boca, havia penetrado no meu coração.

Naquele momento não via a hora que chegasse o dia para ir ter com ele e falar-lhe. Não pensava ainda na minha conversão ou em fazer penitência como eles diziam. Queria só saber por que ele e o seu companheiro eram assim tão felizes, o que tinham encontrado que eu não conhecia.

O livro está a venda no site das Edições Shalom.

Sobre as Edições Shalom

As Edições Shalom atuam como editora, produtora, gravadora e distribuidora dos produtos de evangelização da Comunidade Católica Shalom. Seus produtos são desenvolvidos para quem deseja se aprofundar na fé católica, no conhecimento de Deus e no Carisma Shalom. São produzidos livros, cadernos de oração, estudos bíblicos, CDs musicais e oracionais, DVDs de palestras e shows, camisas e a liturgia diária Pão da Vida. Seu catálogo também conta com as publicações dos selos JP2 e Parresia. As Edições Shalom gerenciam ainda os artistas da Comunidade: Missionário Shalom, Ana Gabriela, Suely Façanha e Alto Louvor. Os produtos estão disponíveis nas Livrarias Shalom, localizadas nos Centros de Evangelização Shalom em todo o Brasil, no site livrariashalom.org e nas lojas católicas.

O que diz o Papa no prefácio

A carta do Papa Francisco se dirige aos jovens que estão à procura. Mas, de quê? De seguranças materiais, realizações pessoais, êxtases? Assim como o Frei Pacífico, que procurava uma vida plena e intensa, o anseio de cada jovem é, diz o Papa, por Jesus. E o Evangelho narra muitos encontros, como ressalta o Pontífice. “O Senhor se deixou encontrar pela insistência da viúva importuna, pela sede de verdade de Nicodemos, pela fé do centurião, pelo grito da viúva de Naim, pelo arrependimento sincero da pecadora, pelo desejo de saúde do leproso, pela saudade da luz do Bartimeu. Cada um destes personagens poderia ter pronunciado com pleno direito as palavras do Salmo 63: ‘Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anseia como a terra árida e sequiosa, sem água’.  Assim, como a semente espera a água, a terra pelo sol, Guilherme de Lasciano (o Frei Pacífico) encontra Francisco e larga tudo para segui-lo. Com Jesus, também é assim, um encontro que muda a vida”.

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