No dia 9 de agosto de 1945, a cidade de Nagasaki foi atingida pela segunda bomba atômica da história. O epicentro da explosão estava a poucos metros da Catedral de Urakami, então o maior templo católico do Oriente. Entre as ruínas fumegantes, algo inesperado foi encontrado: a cabeça carbonizada de uma imagem de Nossa Senhora — com os olhos queimados, uma profunda fenda no rosto e a expressão de quem contempla o sofrimento do seu povo.

Aquela estátua mutilada, conhecida hoje como Nossa Senhora de Nagasaki ou Hibaku no Maria (“Maria bombardeada”), tornou-se um símbolo vivo de esperança e resistência. Para muitos, ela é prova de que, mesmo quando tudo parece destruído, Maria permanece junto dos seus filhos.
Um rosto marcado pela dor… e pela compaixão
A bomba atômica matou instantaneamente mais de 70 mil pessoas e deixou milhares com ferimentos e doenças incuráveis. Entre os escombros, missionários e sobreviventes resgataram a imagem de Maria, ferida, mas intacta o suficiente para ser reconhecida.
Anos depois, o Papa Francisco, em visita a Nagasaki, disse que aquela imagem “fala sem palavras”, pois carrega “o horror indescritível sofrido na própria carne pelas vítimas” e, ao mesmo tempo, “o consolo silencioso da Mãe que nunca abandona”.
Uma memória que caminha: a procissão luminosa
Todos os anos, no dia 6 de agosto, fiéis se reúnem para uma procissão luminosa pelas ruas de Nagasaki. Com velas nas mãos, eles recordam não apenas Hiroshima — bombardeada nessa data —, mas também as vítimas de Nagasaki.
🇯🇵 Católicos japoneses carregam Nossa Senhora de Nagasaki em procissão, uma imagem de madeira que sobreviveu ao bombardeio atômico da cidade há 80 anos. pic.twitter.com/yh8UNYlFhg
— Café com Tradição ☕️🇻🇦(Gabriel Moura) (@cafecomtradicao) August 10, 2025
O cortejo é marcado por silêncio, oração e cânticos marianos. A imagem de Nossa Senhora de Nagasaki é levada à frente, como sinal de intercessão pela paz no mundo e pelo fim das armas nucleares.
Para a comunidade local, essa procissão não é apenas uma homenagem histórica, mas um ato de fé: um pedido para que Deus transforme cicatrizes de guerra em caminhos de reconciliação.
Luz nas trevas
A devoção a Nossa Senhora de Nagasaki nos recorda três verdades profundas:
- Maria permanece – mesmo nas ruínas, Ela está junto de nós.
- A memória é sagrada – lembrar o sofrimento é um caminho para curar o coração do mundo.
- A paz é missão – cada cristão é chamado a ser instrumento de reconciliação.
“Nunca mais guerra! Nunca mais o rugido das armas! Que sempre brilhe a luz da paz” — Papa Francisco, em Nagasaki.