As atividades litúrgicas da Igreja Católica são geralmente caracterizadas pela solenidade e serenidade. No entanto, ainda existe uma antiga tradição chamada “Ofício de Trevas” que, embora pareça estranha à primeira vista, é caracterizada pelo uso de ruídos e outros objetos barulhentos.
O Ofício de Trevas (ou Tenebrae) é celebrado na noite da Quarta-feira Santa e não é uma missa, mas uma oração conjunta entre fiéis.
Esta celebração, além do uso das matracas, também é caracterizada pela presença de um candelabro com 15 velas denominado tenebrário. As quinze velas representam os onze apóstolos, as três Marias e a Virgem Maria, ou seja, aqueles que acompanharam Jesus.
Durante esta atividade litúrgica, as luzes da igreja e do tenebrário vão se apagando aos poucos. Ao chegar à última vela do tenebrário, canta-se o Miserere (Salmo 50/51) e o círio fica escondido atrás do altar, simbolizando a entrada de Jesus no túmulo e a permanência da Igreja à espera da Luz que surgirá na Vigília Pascal.
Quando a última vela é apagada, todas as luzes da igreja se apagam e tanto os fiéis quanto o celebrante tocam as matracas, chocalhos e batem nos bancos para fazer o máximo de barulho possível.
Mas qual o sentido de tanto barulho?
O ruído das matracas e de outros objetos simbolizam os tormentos que se abateram sobre a natureza após a morte de Jesus.
“Então Jesus, clamando novamente com voz poderosa, entregou seu espírito. Imediatamente, o véu do Templo rasgou-se em dois, de alto a baixo, a terra estremeceu, as pedras se partiram e os túmulos foram abertos. Muitos corpos de santos que haviam morrido foram ressuscitados e, saindo dos túmulos depois que Jesus ressuscitou, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitas pessoas”. (Mateus 27, 50-53)
A matraca e o sino
Muitas igrejas adotam a matraca ao invés do sino já durante a Quaresma, para diferenciar a “austeridade” deste tempo, mas ela é particularmente ouvida durante as celebrações do Tríduo Pascal.
A matraca é um instrumento muito antigo de som forte e seco; algumas pessoas podem se sentir incomodados com seu barulho, muitas vezes, ensurdecedor. Mas é justamente este o seu objetivo! Nos fazer, durante a Semana Santa, experimentar também através dos nossos sentidos (neste caso a audição) o sofrimento e as dores que Jesus sofreu e sentiu. A cada vez que a escutamos, podemos fazer dela a nossa oração e o nosso pranto.
Até que no terceiro dia, na Vigília Pascal, os sinos voltam a badalar e cantam alto a glória e a majestade de Cristo Jesus, que morreu por nossos pecados, mas não permaneceu na sepultura, ressuscitou e venceu a morte!
A matraca também é conhecida como “crotalus”, um termo latino que vem da palavra grega “krotalon” (κροταλον), que significa chocalho.
Este objeto costumava ser usado universalmente, mas caiu em desuso nas últimas décadas. No entanto, tem voltado um pouco ultimamente devido ao aumento do interesse pela liturgia tradicional.