C.S. Lewis é comumente considerado um dos maiores apologistas cristãos do século XX. Embora tenha se tornado cristão pelo seu amigo católico J.R.R. Tolkien, Lewis decidiu participar da Igreja Protestante da Inglaterra, onde permaneceu até a sua morte.
O que torna este fato um pouco estranho: ele acreditava no Purgatório.
A doutrina do Purgatório é acreditar que os cristãos passam por um período de purificação após a morte, antes de entrar no Paraíso. A Igreja também ensina que os cristãos vivos podem rezar pelos mortos para que eles possam entrar mais rapidamente no Céu. Esses foram os principais dogmas do catolicismo que foram rejeitados pelos protestantes do século XVI.
Em seu livro “Cartas para Malcolm: Principalmente sobre a Oração”, publicado postumamente em 1964, Lewis dá conselhos a um amigo ficcional sobre a vida espiritual, e é na carta número 20 que podemos encontrar suas surpreendentes palavras sobre o Purgatório.
“Claro que rezo pelos mortos”, Lewis escreve. “A ação é tão espontânea, por isso inevitável, que apenas a mais compulsária teoria contra ela me deteria”.
Quando seu amigo ficcional o desafia de estar advogando para a doutrina católica sobre o Purgatório, ele responde claramente: “Bem, acredito que esteja (…) Eu acredito no Purgatório”.
Ele segue explicando, que na sua visão, a doutrina católica do Purgatório começou a ser distorcida no século XVI, e que tanto as versões anteriores (como a visão de Dante) quanto as versões modernas (a visão de São John Henry Newman) são mais palpáveis.
“Nossa alma precisa do Purgatório, não precisa?”, ele continua em sua defesa. Ele acha que não seria muito amoroso da parte de Deus nos levar ao Céu apesar de todos os nossos apegos ao pecado. “Não deveríamos responder: ‘Com todo respeito, Senhor, e se não houver nenhuma objeção, prefiro ser limpo primeiro.’ ‘Pode doer, você sabe…’ ‘Ainda sim, Senhor.'”
Sobre achar que o Purgatório é doloroso, ele dá uma resposta muito sensata ao estilo Lewis: “Eu presumo que o processo de purificação vai, normalmente, envolver sofrimento. Em parte pela tradição, em parte porque o bem mais real que me foi feito nesta vida o envolveu [o sofrimento]. Mas não acho que o sofrimento seja o propósito da purgação. (…) O tratamento dado será o necessário, ainda que doa muito ou pouco”.
Quem leu suas outras obras ficcionais vai perceber que ele inclui uma versão do Purgatório em seu clássico livro “O Grande Abismo”.
Então pode ser que a doutrina católica sobre o Purgatório não seja tão assustadora para os protestantes, afinal…