Todos os Papas condenaram com firmeza o comunismo, por ser uma ideologia materialista e ateia — destruidora da pessoa humana.
Mas foi com São João Paulo II que o mundo assistiu a algo inimaginável: a queda pacífica do comunismo no Leste Europeu, em 1989, sem um disparo de arma.
Mais do que um acontecimento político, foi um ato de fé, uma intervenção divina na história.
O muro que dividia o mundo
Após a Segunda Guerra Mundial, Berlim foi dividida entre o Oriente comunista e o Ocidente democrático.
Em 1961, a União Soviética ergueu o Muro de Berlim, símbolo da “cortina de ferro” que separava famílias, povos e ideologias.
O mundo vivia a Guerra Fria: tensão constante, medo nuclear e um futuro suspenso entre liberdade e destruição.
Um Papa “do outro lado da cortina”
Em 1978, a eleição inesperada de Karol Wojtyła, cardeal de Cracóvia, mudou tudo.
Era o primeiro Papa não italiano em mais de 450 anos — e, sobretudo, o primeiro vindo de um país comunista.
“Antes do pontificado de João Paulo II, o mundo estava dividido em dois blocos e ninguém sabia como se livrar do comunismo”, recordou Lech Wałęsa, líder do movimento Solidariedade, em 2009.
Na Polônia, em 1979, o Papa disse diante de milhões de pessoas:
“Não tenham medo.
Que o Teu Espírito desça e renove a face da Terra… desta terra.”
Aquelas palavras se tornaram o grito de liberdade de uma nação inteira.
Fé que moveu multidões
Desde o início do pontificado, João Paulo II buscou libertar os povos do comunismo — não com armas, mas com a verdade.
Em cada viagem, ele falava da dignidade humana, da liberdade de consciência e da força espiritual dos povos oprimidos.
Em 1987, em Gdańsk, diante de 750 mil pessoas, o Papa saudou o Solidariedade e declarou que rezava todos os dias pela Polônia.
O historiador britânico Timothy Garton Ash resumiu assim:
“Sem o Papa polonês, não haveria revolução do Solidariedade; sem o Solidariedade, não teria havido mudanças na política soviética; sem essas mudanças, não haveria revolução de 1989.”
O “efeito dominó” da liberdade
A partir da Polônia, o vento da liberdade se espalhou.
Em janeiro de 1989, o Solidariedade foi legalizado. Em agosto, o católico Tadeusz Mazowiecki se tornou o primeiro chefe de governo não comunista do bloco soviético.
Logo vieram a Hungria, a Alemanha Oriental e, finalmente, o 9 de novembro de 1989 — o dia em que o Muro de Berlim caiu.
Dois anos depois, a própria União Soviética deixaria de existir.
Um Papa, um povo e uma promessa
O próprio Lech Wałęsa resumiu a força desse milagre:
“Cinquenta por cento da queda do muro pertence a João Paulo II,
trinta por cento ao Solidariedade,
e apenas vinte ao resto do mundo.”
O Papa que começou seu pontificado dizendo “Não tenham medo” viveu para ver o medo cair — pedra por pedra — junto com o muro.
São João Paulo II nunca quis derrubar governos.
Ele quis abrir corações.
E foi assim que um homem, uma oração e um povo inteiro mostraram ao mundo que a fé é mais forte do que qualquer império.
“A liberdade não é apenas um direito, é um dever.
E a fé é o primeiro passo para conquistá-la.” — São João Paulo II
Nota:
O Solidariedade (Solidarność) foi um movimento social e sindical polonês fundado em 1980, que uniu milhões de trabalhadores contra o regime comunista, com forte inspiração cristã e apoio moral de São João Paulo II.
Seu líder, Lech Wałęsa, foi eleito presidente da Polônia em 1990 e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1983.
