Enquanto aguardava seu julgamento na Torre de Londres, em Agosto de 1534, São Thomas More disse a sua filha: “Eu nunca tive a intenção, Deus seja sempre o Meu Senhor, de fixar-me as costas de outro homem, mesmo sendo este o melhor homem nos dias de hoje, pois, não sei do que eles são capazes.”

O santo padroeiro dos políticos foi para o bloco destinado aos condenados a morte por se recusar a abandonar a sua consciência por conveniência política, nem mesmo para salvar sua vida. Deveriam, os políticos católicos, seguir sua liderança.

É quase incontestável que muitos políticos católicos de todos os partidos não estão dispostos a formar a sua consciência corretamente. Menos ainda estão dispostos a agir sobre uma consciência formada de acordo com a razão e a lei divina, especialmente se isso significa o martírio político e social.

A questão, por exemplo, de politicos católicos pró-aborto foi trazido novamente a tona nos Estados Unidos em ano eleitoral pela escolha de Hillary Clinton, pelo senador da Virgina. Tim Kaine como seu companheiro de chapa, declarou publicamente que é pessoalmente contra o aborto, mas, desde a sua chegada no Senado dos EUA em 2013, ganhou uma classificação de 100% sobre o aborto da Planned Parenthood, maior clínica de aborto do mundo.

Kaine não está sozinho em professar seu catolicismo privado, mantendo uma posição pública que é contrário aos ensinamentos da Igreja. O que é notável no clima político de 2016, no entanto, é a maneira que um fiel católico que se esforça para trazer uma consciência formada adequadamente para a arena pública é acusado de impor ideias perigosas e ilegítimas para o corpo político.

Tudo isso foi previsto, é claro, em um documento publicado em 2002 pelo então cardeal Joseph Ratzinger quando era chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, a “Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política. A intenção do futuro Papa era recordar alguns princípios próprios da consciência cristã, e vale a pena uma nova leitura à luz da próxima eleição.

Cardeal Ratzinger não desanimou os católicos de participarem na política. Em vez disso, sugeriu, “por cumprir os seus deveres cívicos, guiados pela consciência cristã, de acordo com os seus valores, os fiéis leigos e a sua correta tarefa de infundir a ordem temporal com os valores cristãos, ao mesmo tempo respeitando a natureza e justa autonomia nessa ordem, e cooperando com outros cidadãos de acordo com a sua competência e responsabilidade particular”.

Na sua essência, o documento serviu para lembrar a todos que a vida política deve ser orientada para a promoção da dignidade da pessoa humana e do bem comum, especialmente em face da grande ameaça do relativismo moral.

“Uma espécie de relativismo cultural existe hoje”, escreveu o Cardeal, “evidente na conceituação e defesa de um pluralismo ético, que sanciona a decadência e desintegração da razão e os princípios da lei moral natural.” Esse relativismo inaugura na sociedade uma falsa autonomia nas escolhas morais e uma capitulação trágica “para as tendências culturais e morais, como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor.”

O efeito prático de tudo isso é duplo. Em primeiro lugar, o relativismo moral arranca nos fundamentos da democracia, destruindo uma compreensão autêntica da pessoa humana:

“A Igreja reconhece que, embora a democracia seja a melhor expressão da participação direta dos cidadãos nas escolhas políticas, ela só terá sucesso na medida em que se baseia em uma compreensão correta do ser humano. O envolvimento católico na vida política não pode comprometer esse princípio, do contrário o testemunho da fé cristã no mundo, assim como a unidade e coerência interior da fé, não existiria”.

Em segundo lugar, os fiéis católicos estão sendo empurrados para fora da praça pública e silenciados em nome da diversidade e da tolerância. Ao mesmo tempo, o relativismo moral, sob o disfarce de tolerância, permite que surjam políticos católicos autoproclamados para confundir os fiéis, apoiando leis que são diametralmente opostos à dignidade da pessoa humana e do bem comum, que são princípios fundamentais do ensino católico social, bem como os valores da lei moral natural. O o Cardeal Ratzinger acrescentou em nota doutrinal: “Em face de exigências éticas fundamentais e inalienáveis, os cristãos devem reconhecer que o que está em jogo é a essência da lei moral, que diz respeito ao bem integral da pessoa humana. Este é o caso com as leis relativas a aborto e eutanásia. Tais leis devem defender o direito fundamental à vida desde a concepção até a morte natural.” Ele acrescentou outros problemas significativos, incluindo a defesa da família e do casamento, o direito dos pais de educar seus filhos e a liberdade religiosa.

Aqui é desnudado o problema básico dos políticos católicos que demonstram uma falta de vontade para trazer suas “opiniões pessoais” na arena da política pública. Estão subvertendo o que deveria ser a própria consciência formada adequadamente, confundindo os fiéis e fazendo um grave desserviço à busca do bem comum.

A nota lembra aos políticos católicos, “a doutrina social da Igreja não é uma intromissão no governo de cada país. É uma questão de dever do leigo católico a ser moralmente coerente, no interior da sua consciência, que é una e indivisível”.

Há uma preocupação genuína da Igreja para o bem-estar dos próprios eleitos. Eles costumam viver uma espécie de esquizofrenia religiosa e espiritual que foi observado pelo entao Papa, São João Paulo II na sua exortação apostólica 1988 sobre a vocação e a missão dos fiéis leigos na Igreja e no Mundo, Christifideles Laici.

“Não pode haver duas vidas paralelas”, escreveu São João Paulo II, “em sua existência: por um lado, a chamada vida ‘espiritual’, com os seus valores e exigências; e por outro lado, o chamado vida ‘laica’ “(59).

Olhando para 2016, a nota doutrinal oferece um ensinamento claro sobre como um político católico deve agir como um verdadeiro servidor público, não abandonando os princípios fundamentais da lei moral por conveniência política. Ele também dá aos católicos um meio de julgar se os seus candidatos estão trabalhando realmente para promover a pessoa humana e o bem comum. Infelizmente não podemos esperar que todos os políticos católicos sejam como São Thomas More.

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