Queremos compartilhar com vocês uma importante reflexão feita sobre a matéria exibida no último domingo no Fantástico feita por Narlla Sales Bessoni da página Mãe das Crias.
Começo dizendo que de domingo para segunda eu não dormi direito. Tive a infelicidade de assistir a uma matéria veiculada no Fantástico sobre (e em prol!) a legalização do aborto.
Como jornalista, não pude deixar de notar que aquela reportagem mais parecia uma peça publicitária, cujos interesses de quem a propôs (e pagou, sei lá) deveriam ser obrigatoriamente defendidos, mostrados, justificados. Nada contra propagandas, mas aquilo ali não tinha nenhuma plaquinha dizendo que era uma propaganda. Era pra ser reportagem. E dada a gravidade do assunto, dar voz para, no mínimo, dois lados.
Começaram dizendo que o papa Francisco liberou os padres para perdoarem mulheres que cometeram aborto. Assim, sem nenhum contexto, explicação, como se o pecado do aborto, até recentemente, levasse a pessoa pro inferno sem escalas, independente se a pobre mulher pedisse clemência a Deus e se arrependesse. Caso você não seja católico ou não saiba, falarei sobre isso mais adiante.
Aí começou o discurso de que praticamente o mundo inteiro abortou. Inclusive você, amiga. Se duvidar, até eu abortei e não fiquei sabendo.
Mencionaram uma “pesquisa” com dados absolutamente controversos, questionáveis. A julgar pela entidade responsável (Anis), uma organização que vem lutando há muitos anos, muitos, mesmo, pela legalização do aborto. Falou a dona da entidade, falou o advogado que acha que é isso mesmo, falaram mulheres (sofridas, marcadas, mutiladas) e que estão, provavelmente, lidando com a realidade de terem eliminado seus filhos sem ter a chance de se encontrarem com uma reconciliação verdadeira e profunda sobre o ato que praticaram.
Há sempre alguém ali dizendo que “não foi nada, tá tudo bem” quando, na verdade, foi terrível (para elas e para seus bebês). Assim, essas mulheres não têm a chance de se depararem com a dor do arrependimento e a alegria da redenção. Porque Deus perdoa e somente Ele é capaz de reconstruir, restaurar, recriar o que está perdido. Mas como tomar consciência se, a todo instante, alguém quer anestesiar e ignorar seus valores?
São muitos argumentos: melhor matar do que nascer pobre ( é por que pobre vira bandido? Pobre é uma praga? Logo, pobre não deve nascer, né?).
“Melhor matar do que nascer doente e dar trabalho.” Caros, filhos dão trabalho, sim. Não-saudáveis ou sadios, dão trabalho. O peso vai depender de quem o assume como um fardo ou não.
“Melhor matar do que esperar nascer e morrer algumas horas depois”. Sim, melhor eliminar do que deixar aquela pessoa viver – por ser um dom em si mesma – do que deixar com que realize sua missão aqui nesta terra.
Melhor matar do que ter trabalho com essas mães. Leva ela numa clínica fofinha e limpinha, chama o procedimento de “interrupção terapêutica” e manda a mulher ir viver a vida, se curar desse trauma dizendo que ela é dona de si, que faz suas regras, que escolhe seu destino. E que não, não foi nada, você apenas escolheu por si mesma. Que mentira!
Libertação, para uma mulher, é ser confirmada no amor. Se não tem amor do pai da criança, da família, de ninguém, que encontre amor em mim, em você. Que encontre apoio e acolhimento nas políticas públicas. Que encontre esperança e força em um: “não é fácil, mas você vai conseguir, sim!”.
Queremos queimar sutiã, pneus e pixar muros, mas não queremos nos comprometer com quem está ao nosso lado. Não queremos ser solidários ao ponto de assumirmos riscos por causa de um desconhecido, de uma mãe desesperada, de um casamento que está a beira do fim. Nomeamos a nossa indiferença de: “o outro é livre e faz o que quiser”. Queremos apenas dizer que as mulheres são donas de seus corpos, repetir essa verdade com a mentira de que o corpo do filho (ou não é um ser humano) ou simplesmente pertence à mãe, dando a ela o direito de fazer o que quiser com ele.
Volto ao papa.
Como era antes da decisão recente do papa Francisco?
Teoricamente, por considerar o aborto um grave pecado contra a vida humana, a mulher deveria buscar um bispo para se reconciliar consigo mesma e com Cristo. Tecnicamente, em muitas dioceses, bispos já delegavam sacerdotes para acolher e atender estas mulheres no sacramento da reconciliação. Por uma necessidade pastoral, pois, por conta de compromissos e atividades, um bispo não costuma ter uma agenda tranquila.
No jubileu extraordinário da Misericórdia (2015 – 2016), o papa já havia universalizado esta faculdade. Todos os sacerdotes poderiam atender mulheres, homens e pessoas que participaram de um aborto.
Na carta em que o papa universaliza a faculdade de qualquer sacerdote conceder o perdão em casos de aborto, ele diz:
“Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.”
Para a carta na íntegra, acesse: Texto Completo: Carta Apostólica “Misericordia et misera”.
No mais, finalizo minhas considerações.
Lá na Alemanha nazista, ALGUÉM decidiu quem era gente e quem não era, justificando assim, a eliminação dos “não-humanos”. Hoje acontece a mesma coisa. Estão repetindo essa mentira milhões de vezes pra ver se cola e, num passe de mágicas, se torna uma verdade. Só que não.
Peço a caridade, caso você discorde de tudo que escrevi, que acesse os links abaixo antes de tecer comentários.
E a você que concorda total ou parcial, faça o mesmo. São esclarecedores.
Isabela Mantavoni apresenta dados (REAIS!) sobre o aborto no Brasil na TV Senado: goo.gl/uAiNMI.
Para conhecer mais sobre Débora Diniz, fundadora da organização que foi literalmente promovida na matéria do Fantástico: goo.gl/ANzTYm.
Aqui, uma reflexão (matemática!) sobre os absurdos mencionados na matéria do Fantástico: goo.gl/MKfUUR.
E, finalmente, um belo exemplo de comprometimento com causa: goo.gl/FrciBc.