Santo Tomás e a vaca
‘Consta que o tímido e bonachão Tomás debruçava-se, como sempre, em uma pilha de livros e escritos, sempre em produção frenética. Alguns monges se aproximam e decidem pregar uma peça no compenetrado monge:
– Tomás, Tomás! Veja! Uma vaca voando!
Tomás saltou da cadeira e, reclinado ao parapeito, vasculhou os céus em busca da vaca, enquanto em torno os outros monges explodiam numa gargalhada coletiva.
Surpreendido, o santo se explicou:
“É que achei mais razoável uma vaca voar do que um irmão mentir.”
Santo Tomás, “O Boi mudo””
“Entre os estudantes que se amontoavam nas salas de aula, havia um que, notório pela estatura elevada e pela corpulência, não conseguia ou não queria ser notável por outra coisa. Mantinha-se tão calado nos debates, que os companheiros começaram a dar à palavra “mudez” a mesma significação que os americanos lhe dão, pois na América a palavra é sinônimo de “estupidez”. Claro que, daí a pouco, até a estatura imponente começou a ter só a imensidade ignominiosa do rapaz grande que fica para trás, na classe inferior. Chamaram-lhe o Boi Mudo. Tornou-se objeto não só de zombaria, mas também de piedade.
Um estudante bondoso condoeu-se tanto dele, que buscou ajudá-lo com explicações, ensinando-lhe os elementos da lógica, como se tratasse de lhe ensinar o alfabeto num livro de primeiras letras. O jovem bruto agradeceu-lhe com delicadeza tocante, e o filantropo continuou com êxito, até chegar a um ponto quanto ao qual ele próprio sentiu dúvidas, e de fato errou. Em face disto, o bruto, com toda a aparência de embaraço e perturbação, apresentou uma solução possível, que em verdade era a solução exata. O benévolo estudante ficou boquiaberto, como se estivesse a olhar para um monstro, ao ver o que se lhe afigurava, uma misteriosa massa de ignorância e inteligência.” G. K. Chesterton