Pe. Laurence Flynn é o responsável por cuidar de uma ilha sagrada da Irlanda. Normalmente, o centro religioso recebe milhares de peregrinos todos os anos, mas por causa da pandemia da Covid-19, este pároco ficou literalmente ilhado e vive sozinho.

E ele conta como vive o seu confinamento na ilha!

O sacerdote está no conhecido Purgatório de São Patrício, uma ilha da Irlanda, localizada no lago Lough Derg. Lá, conta uma tradição, o santo teria recebido uma visão mística do inferno.

A ilha do Purgatório de São Patrício

Créditos: Paul Faith/AFP

Este lugar atrai milhares de peregrinos católicos desde o século 400 d.C. Pessoas que chegam para passar um tempo de penitência e provas espirituais, que geralmente consistem em três dias de jejum e longas jornadas de oração e vigílias noturnas.

Os fiéis que realizam a peregrinação -uma das mais duras que existem- só podem se alimentar com chá, café com leite, pão seco ou tostado e pastéis secos com aveia.

Além disso, devem vigiar por 24 horas e realizar orações de nove horas com os pés descalços.

Créditos: Paul Faith/AFP

Por entre as ruínas de antigas celas monásticas, os peregrinos caminham se ajoelhando sob a sombra de um campanário situado no lugar da gruta onde São Patrício teria tido a visão no ano 445. Nesta gruta, que na verdade é um poço, conta a lenda que São Patrício teria visto as portas do inferno.

“Os monges tinham o hábito de velar durante 24 horas nesta gruta, e com o tempo ela se tornou um centro de peregrinação”, conta o padre Flynn.

As pessoas que passassem 24 horas em contrição pelos seus pecados na gruta, obteriam um lugar no paraíso: “teriam atravessado, de certa forma, o purgatório”, explica ele.

Créditos: Paul Faith/AFP

A decisão do Pe. Laurence Flynn

Por causa da pandemia, o Purgatório de São Patrício deixou de receber peregrinos pela primeira vez desde 1858. Por isso, o Pe. Laurence Flynn tomou uma decisão:

“Escolhi ficar aqui (…) em solidariedade a quem não tem opção entre ficar no mesmo lugar ou se locomover com mais liberdade”, contou o sacerdote de 69 anos. Ele está na ilha desde 1 de junho de 2020.

Ainda que não cheguem peregrinos à ilha, todas as manhãs o Pe. Laurence tira as sandálias e segue com os pés descalços no caminho da peregrinação que já foi percorrido por milhões de pessoas nos últimos 150 anos.

“Trago comigo as orações de quem me solicita e as de quem quis vir mas não pôde, ou quem sempre vem mas não pôde vir desta vez”, falou.

“Existem poucos sacerdotes ilhados como eu no momento, mas não me sinto ilhado”, afirmou. “Nunca me senti só desde que cheguei aqui”.

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