A Ucrânia vive dias de terror com a invasão e constantes ataques da Rússia; centenas de milhares de pessoas já deixaram o país fugindo da guerra e, quem ainda permanece, está tendo que se esconder em abrigos subterrâneos por causa dos bombardeios. Entre os que vivem o atual drama no país, está o brasileiro Pe. Lucas Perozzi Jorge, que decidiu ficar para ajudar seu o povo!

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“Na alegria ou na guerra”: conheça o padre brasileiro que decidiu ficar na Ucrânia e cuidar de seus fieis

Pe. Lucas Perozzi Jorge tem 36 anos e é natural de Álvares Machado, interior de São Paulo. Mas desde 2004 mora na Ucrânia, local onde foi ordenado sacerdote da Igreja Católica. Atualmente em Kiev, transformou a Paróquia Dormição da Santíssima Virgem Maria, em que atua, em um abrigo para 28 pessoas, sendo cinco delas, crianças.

Em uma entrevista ao portal G1, o padre contou que “sempre tive a certeza de ficar aqui. Já me falaram para voltar, mas aqui é o meu lugar, o lugar que eu escolhi para compartilhar, seja na alegria ou na guerra“.

Pe. Lucas relatou ainda que, quando o conflito começou na semana passada, ele “estava no extremo oeste da Ucrânia, onde está um irmão. Eu estava fazendo um curso e soube da explosão da guerra e decidi voltar o mais rápido possível”.

Ele chegou ao local, que fica há cerca de 30 minutos do centro da cidade, à noite, pouco antes do do toque de recolher. “Tem mais pessoas que moram aqui. Estamos em quatro padres, outras duas pessoas que nos ajudam e as pessoas sem casa. Nós estamos acolhendo quem precisa de um local“.

Para ele, um dos principais motivos que o fizeram permanecer na Ucrânia foi poder cumprir sua vocação. “É uma grande responsabilidade. Eu tenho de levar a palavra de Deus não somente porque sou padre, mas por ser cristão“.

Pe. Lucas explica que as pessoas que estão abrigadas na paróquia não conseguiram lugar em ‘bunkers’, que são espaços subterrâneos antibombas. Então como a paróquia tem três andares, um deles um pouco abaixo do nível da rua e coberto com uma estrutura de metal, é possível abrigar com certa segurança a quem precisa.

Ele explica que “não é um bunker e não chega a ser subterrâneo, porque é fechado somente na parte da frente, que fica abaixo do nível da rua, mas é visível por trás, onde há um lago. Estamos arrumando para ficar mais digno para as pessoas”.

E contou que precisam estar sempre com as luzes apagadas, pois “com a luz acesa, ficamos muito expostos aos inimigos, viramos um ponto de referência. Por isso, a orientação é para não acender as luzes. É uma forma de segurança”.

Confira algumas fotos do local:

Pe. Lucas conta que só sai durante o dia para resolver coisas urgentes e necessárias: “Um amigo saiu para comprar comida, e eu fui celebrar missa na casa de umas freiras que têm um orfanato. Depois, fui buscar remédios e coisas de primeiros socorros. Estamos tentando fazer um estoque de água e comida”.

Há quase 20 anos na Europa, ele lamentou a situação e disse que não imaginava ter que viver em uma guerra. “O povo já sofreu muito com outras guerras, muitos locais foram destruídos”.

Mas mesmo diante do sofrimento, está sereno e com fé. “Agora é momento para esperar, rezar bastante até que a guerra passe. Uma coisa que me consola é que um dia eu vou morrer, um dia você, que está no Brasil, vai morrer também. De um jeito ou de outro, todos vamos morrer. Eu não sei o que vai acontecer, se eu vou morrer aqui. Mas o que me dá esperança é a promessa da vida eterna“.

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Pe. Lucas chegou à Ucrânia após um período de estudos na Itália, enquanto estava no seminário. Ele ainda ficou um tempo em Varsóvia, na Polônia, antes de fixar moradia em Kiev. Foi ordenado sacerdote em 2013.

Apesar do horror da guerra, o padre diz que continua confiando inteiramente ao Senhor. “Muitas pessoas me perguntam onde está Deus, por que ele permite tudo isso? Deus está aqui. Está nas pessoas. Está nos padres que deixaram tudo, não se importando com suas próprias vidas para ajudar espiritualmente. (…) Eu não tenho dúvidas sobre a existência de Deus e, se tivesse, eu estaria ferrado, porque é o único apoio que eu tenho”.

Belo testemunho. Rezemos pela paz na Ucrânia!

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